O relógio marca as 17h, estava serena, o comprimido fez efeito, estava preparada, tinha de ser... Olhava para a porta, mas ela não se abria... não abria mesmo! No quarto ao lado do meu estava uma menina, parecia um pouco mais velha do que eu, tinha sido operada há dois dias... e já andava. Dei comigo a invejar a sorte dela, já tinha passado por aquilo que eu estava a passar e ainda ia passar: a operação. Uma das enfermeiras já nos tinha dito que, em média, são operadas duas meninas por semana naquele hospital, para tratar precisamente escolioses como a minha.
- Ai, já passa da hora, nunca mais me vêm buscar!
A espera estava a tornar-se angustiante, o medo começou a apoderar-se de mim, precisava de terminar aquilo depressa...
Dezoito horas e quinze minutos, a porta abriu-se.
- Vamos lá, Beatriz, está na hora! - disse uma das enfermeiras que me veio buscar.
Agora, à distância não sei dizer-vos o que senti naquele momento, mais medo ou seria alívio por, finalmente, ir fazer aquilo que me iria pôr uma rapariga normal, com as costas direitas, de forma a que as pessoas menos discretas deixassem de me olhar como "diferente"!
Saí do meu quarto deitada na minha cama, e lá fui eu, acompanhada por uma auxiliar e por uma enfermeira que empurravam a cama, e os meus pais que não me largaram um bocadinho. Os nervos apoderaram-se de mim e pouco depois de iniciar a viagem na minha cama, comecei a chorar... Por volta das 18.30h entrei no Bloco Operatório, depois de me despedir dos meus pais. Todos chorámos...
Já com a porta fechada do Bloco, ainda consegui ver a minha mãe através do vidro da parte superior dessa porta. Entretanto, puseram-me uma touca na cabeça, ajudaram-me a sair da minha cama e passei para uma maca. Nesta havia uma espécie de uma roda cor de cera com um buraco no meio. Era a minha "almofada", onde coloquei a minha cabeça. E lá fui eu...
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